A Agorafobia é uma perturbação da ansiedade cuja principal característica é o medo de estar em locais ou situações de onde a fuga possa ser difícil ou embaraçosa, ou nos quais não se vislumbre a possibilidade de ser ajudado no caso de se desenvolver um ataque de pânico ou sintomas semelhantes ao pânico.

Este medo incontrolável de certos locais ou situações (nomeadamente, afastar-se de casa, estar no meio de uma multidão, ter de esperar numa fila, permanecer em espaços públicos, como o cinema, grandes superfícies ou transportes, conduzir numa auto – estrada ou passar numa ponte (locais de onde o poder sair, inverter a marcha ou outras possibilidades de fuga são impossíveis) leva invariavelmente a um evitamento dos mesmos, impedindo muitas vezes o agorafóbico de se deslocar para o emprego, ou levar a cabo outras tarefas significativas do dia-a-dia, tornando-se naturalmente muito incapacitante. Chegam a passar meses sem conseguir sair de casa…

Quais os principais sintomas presentes na agorafobia?

Na grande maioria dos casos a agorafobia encontra-se associada à perturbação de pânico, pelo que a pessoa pode experienciar os seguintes sintomas, para além do referido medo: palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado; suores; tremor; dificuldade em respirar; Sensação de sufoco, desconforto ou dor no peito. Sentimento de morte iminente.

Todas estas situações passam, então, a ser naturalmente antecipadas com muita ansiedade. Podem mesmo passar a ser evitadas ou a pessoa só conseguir enfrentá-las quando na presença de alguém da sua confiança ou algum objecto que lhe permita sentir essa mesma segurança (por exemplo: crucifixo, trazer calmantes consigo…).
É uma perturbação que se verifica com maior frequência nas mulheres que nos homens.

O que é que leva uma pessoa aparentemente saudável a desenvolver agorafobia?

Um estudo americano recente constatou que pessoas com personalidades dependentes e evitantes têm maior predisposição para apresentar um quadro clínico de perturbação de pânico e/ou agorafobia. Assim sendo, sintomas de ansiedade e insegurança na infância podem ser indicadores do desenvolvimento de perturbação de pânico na vida adulta.

A agorafobia é considerada uma perturbação multifactorial, por se encontrarem na sua origem factores genéticos, biológicos, cognitivos e psicossociais.

Factores genéticos: estudos realizados com gémeos comprovam que há 5 vezes mais probabilidade de desenvolver agorafobia quando se tem, pelo menos, 1 familiar directo com a mesma perturbação.

Factores neuropsicológicos: deficit da memória episódica; assimetria do fluxo sanguíneo cerebral na região do giro parahipocampal; alterações dos níveis adrenalina / noradrenalina e serotonina (neurotransmissores).

A experiência e o estilo de vida são factores importantes nesta perturbação?

A pessoas com os factores de risco mencionados poderá ser suficiente a exposição a um único acontecimento, que seja vivido de forma demasiado intensa para desenvolver um quadro de agorafobia. Pode criar-se, a partir daí, uma ansiedade antecipatória, isto é, medo de ter medo. Passa a actuar como um ciclo vicioso, quanto maior a ansiedade, mais se evita a situação ou lugar, mais ansiedade se sentirá em situações futuras.

O evitamento da situação desencadeante, contrariamente ao que as pessoas possam crer, aumenta o medo de as conseguir ultrapassar, pois faz-se uma aprendizagem disfuncional da situação.

Aprende-se que não se tem de facto competências para lidar com a mesma, dado os sucessivos evitamentos reforçarem a ideia de incapacidade face á possibilidade de lidar adequadamente com o problema.

Também o excesso de zelo, a que actualmente se assiste a nível educacional, poderá levar a um défice de competências para lidar com novas situações, podendo criar um pico de ansiedade se o indivíduo for exposto sem preparação prévia. Logo, pode desenvolver-se ansiedade antecipatória e, eventualmente, agorafobia.

Se uma criança tiver como modelos (pais, irmãos ou outros familiares próximos e significativos) pessoas com agorafobia, podem aprender esses comportamentos por modelagem, não sendo eles propriamente os doentes, mas comportando-se como tal.

Uma coisa é fundamental que se perceba: o medo é um comportamento aprendido.

Como diz o Prof. Vaz Serra: a única forma de resolver o medo, é enfrentá-lo!

Que tipo de tratamentos se recomendam nestas situações?

Normalmente, a Psiquatria receita ansiolíticos e/ou antidepressivos com propriedades antiansiolíticas, devido à ansiedade que as pessoas sentem e os sentimentos de impotência e incapacidade que acarreta a falta de skills para lidar com as várias situações, e a frustração e mal estar que isso acarreta. Por outro lado, a Psicologia, tem variadas técnicas psicológicas que podem ajudar, como as que nos apresenta a terapia cognitivo-comportamental, que inclui entre outras a educação psicológica deliberada sobre esta perturbação, reestruturação cognitiva, treino de relaxamento e controlo da respiração, exposição gradual e mediatizada (realidade virtual, por exemplo).

Num segundo momento temos a terapia narrativo-construtivista, que permite identificar padrões de comportamento ao longo do ciclo de desenvolvimento do indivíduo com agorafobia, podendo assim alterar a sua narrativa pessoal e analisar futuras situações de forma mais adaptativa. Damos, portanto, estratégias para as pessoas gradualmente irem enfrentando os seus medos.

Existem ainda, de entre as terapias breves mais actuais, o EMDR e o Brainspotting, terapias focalizadas e utilizando a estimulação cerebral bilateral, duas intervenções com sucesso, em velocidade acelerada, para o tratamento desta patologia
A cura passa muito pela boa relação empática estabelecida entre terapeuta cliente.
Sabe-se, actualmente que o tratamento farmacológico combinado com psicoterapia é mais eficiente que qualquer uma das modalidades isoladas.