Dificuldades de Aprendizagem

As Dificuldades de Aprendizagem podem dever-se a diversos factores, tais como: estimulação cognitiva anterior, dislexia, discalculia, disortografia,…

Um aspecto fundamental para minimizar os danos que estas perturbações podem causar no desenvolvimento de uma criança é a Intervenção Precoce. Com efeito existem provas de avaliação das competências/capacidades/aptidões para a aprendizagem da escrita e da leitura ainda em idade pré-escolar. Crianças a partir dos 4 anos de idade podem realizar estas provas e identificar a probabilidade de apresentarem dificuldades de aprendizagem quando frequentarem o 1º Ciclo do Ensino Básico. A identificação precoce das dificuldades destas crianças permite uma intervenção precoce (ainda antes da entrada na escola), para que se possa minimizar a influência desta dificuldade no processo de aprendizagem da criança e assim garantir um melhor desempenho escolar.

Perturbação da Leitura

Também conhecida como Dislexia, esta perturbação resulta num rendimento na leitura bastante abaixo do esperado para a idade. Esta perturbação interfere, significativamente, com o rendimento escolar ou actividades diárias que requerem competências de leitura (e.g., ler ementas, ler direcções em placas de trânsito, ler anúncios, ler avisos). A leitura em voz alta é muitas vezes caracterizada por omissões, distorções ou substituições.

Quer a leitura em voz alta, quer a leitura silenciosa são caracterizadas pela lentidão e erros na compreensão.

A intervenção, após avaliação psicológica, centra-se no treino cognitivo de atenção, por forma a diminuir os erros de percepção do texto e melhorar, significativamente, a precisão e velocidade de leitura. A educação multissensorial e psicomotora é fundamental, pois possibilitará a aquisição mental dos fonemas (unidades de som) através da construção da percepção com recurso ao tacto, à visão, ao olfacto, à audição e ao gosto e o domínio da lateralidade e orientação espácio-temporal.

Perturbação do Cálculo

Também conhecida como Discalculia, é definida por uma capacidade para o cálculo bastante abaixo do esperado para a idade da criança. Esta perturbação interfere, significativamente, com o rendimento escolar ou actividades quotidianas, que requerem competências aritméticas (e.g., conferir troco, calcular quanto terá de pagar no final das compras).

Pessoas com esta perturbação podem apresentar uma diminuição das competências linguísticas (e.g., compreensão ou denominação de termos aritméticos, operações ou conceitos, descodificação de problemas escritos em símbolos aritméticos), perceptuais (e.g., reconhecimento ou leitura de símbolos numéricos ou sinais aritméticos, associação de objectos em grupo), competências de atenção (e.g., copiar correctamente números ou figuras, recordar para juntar no “e vai um”, observar sinais operacionais) e competências aritméticas (e.g., seguir sequências de passos de aritmética, contar objectos, aprender tabelas de multiplicação)

A intervenção, após avaliação psicológica, centra-se no treino cognitivo de atenção, por forma a diminuir os erros de percepção dos sinais e símbolos aritméticos e melhorar, significativamente, o rendimento em tarefas aritméticas. A educação multissensorial também desempenha um papel preponderante, nomeadamente na construção dos conceitos numéricos através do recurso às diversas modalidades sensoriais.

Perturbações da Escrita

Também conhecidas como Disortografia e Disgrafia, resultam num rendimento na escrita substancialmente abaixo do esperado para a idade.

A Disortografia interfere, significativamente, na capacidade de compor um texto escrito, verificando-se erros gramaticais ou de pontuação na elaboração das frases, organização pobre dos parágrafos, múltiplos erros de ortografia e uma caligrafia excessivamente deficitária.

No caso da Disortografia há algumas técnicas que se encontram desaconselhadas na sua intervenção, particularmente o recurso a ditados, cópias e listas de palavras. Contrariamente ao que se costuma observar nas escolas portuguesas, estas técnicas não só não contribuem para atenuar as dificuldades sentidas pela criança com Disortografia, como muitas vezes agravam o quadro clínico ao diminuir a auto-estima e o auto-conceito escolar (a criança não gosta de si e rejeita as actividades escolares por temer um mau desempenho).

A intervenção, após avaliação psicológica, centra-se no treino cognitivo de atenção, por forma a diminuir os erros de ortográficos e a estrutura gramatical do texto e melhorar, significativamente, a capacidade de redacção de um texto escrito. A elaboração de um inventário cacográfico e um ficheiro cacográfico, bem como um aumento da percepção, da discriminação e memória auditiva e discriminação e memória visual, são outras técnicas de intervenção nesta perturbação que têm vindo a demonstrar-se eficazes no seu tratamento.

No caso da Disgrafia a dificuldade assenta no domínio da escrita, sendo que a caligrafia é muito pobre, o que dificulta a leitura da produção escrita. A criança não consegue coordenar os movimentos correctamente, pelo que o texto redigido fica imperceptível. Normalmente é nominada a “letra feia” ou “ilegível”.

No caso da Disgrafia a “normalização” do método de ensino nas escolas portuguesas leva a um método rígido de intervenção por parte dos professores que parecem limitar-se a melhorar o sintoma (a má caligrafia) com recurso a cartilhas e modelos de caligrafias, sem explorar a origem desta perturbação. Esta intervenção é, portanto, superficial e possibilita a manutenção do problema em outros contextos de vida, outras dificuldades.

Assim sendo, no caso de crianças que apresentem Disgrafia, para além do treino de atenção deverá ser levado a cabo um treino de psicomotricidade, que permita a aquisição do domínio da escrita através de actividades que levem a uma maior concretização dos gestos pretendidos (e.g., ginástica, desenhos, pintura, treino de lateralidade). A criança deve realizar actividades que permitam fortalecer a mão dominante. Ainda sem explorar a escrita, devem realizar-se exercícios de grandes traços deslizantes, exercícios de progressão cinética dos movimentos adaptados à escrita. Um dos programas de intervenção que poderá ser utilizado com estas crianças e jovens (adaptando às necessidades de cada um deles) é composto pelas seguintes fases: (a) Reeducação psicomotora de base; (b) Reeducação psicomotora diferenciada; (c) Reeducação visuomotora; (d) Reeducação do grafismo.